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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Tempestade de areia

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não para de mudar de direção. Você muda de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de você. Volta a mudar de direção, mas a tempestade te persegue, seguindo o seu encalço. Isso acontece várias e várias vezes, como uma espécie de dança sinistra com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque essa tempestade não é algo que tenha surgido do nada, sem nada a ver com você. Essa tempestade é você. Algo que está dentro de você. Por isso, só lhe resta se deixar levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para a areia não entrar e, passo a passo, atravessar de uma ponta a outra. Aqui não há sol nem lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina rodopiando no céu, como ossos pulverizados. É uma tempestade assim que você deve imaginar.

E não há uma forma de escapar da violência dessa tempestade, dessa tempestade metafísica e simbólica. Por mais metafísica e simbólica que seja, lhe cortará a carne como mil lâminas afiadas. O sangue de muita gente correrá, e o seu com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficará com as mãos cheias de sangue, do seu e de outros.

E quando a tempestade tiver passado você não se lembrará de como você passou por ela, como você conseguiu sobreviver. Você nem mesmo terá certeza, na verdade, se a tempestade acabou mesmo. Mas uma coisa é certa. Quando você sair da tempestade, você não será a mesma pessoa que entrou nela.

 Kafka À Beira Mar, Haruki Murakami.


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