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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Tempestade de areia

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não para de mudar de direção. Você muda de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de você. Volta a mudar de direção, mas a tempestade te persegue, seguindo o seu encalço. Isso acontece várias e várias vezes, como uma espécie de dança sinistra com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque essa tempestade não é algo que tenha surgido do nada, sem nada a ver com você. Essa tempestade é você. Algo que está dentro de você. Por isso, só lhe resta se deixar levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para a areia não entrar e, passo a passo, atravessar de uma ponta a outra. Aqui não há sol nem lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina rodopiando no céu, como ossos pulverizados. É uma tempestade assim que você deve imaginar.

E não há uma forma de escapar da violência dessa tempestade, dessa tempestade metafísica e simbólica. Por mais metafísica e simbólica que seja, lhe cortará a carne como mil lâminas afiadas. O sangue de muita gente correrá, e o seu com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficará com as mãos cheias de sangue, do seu e de outros.

E quando a tempestade tiver passado você não se lembrará de como você passou por ela, como você conseguiu sobreviver. Você nem mesmo terá certeza, na verdade, se a tempestade acabou mesmo. Mas uma coisa é certa. Quando você sair da tempestade, você não será a mesma pessoa que entrou nela.

 Kafka À Beira Mar, Haruki Murakami.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Desconcertada, humilhada, envergonhada

Já começo dizendo que Em Chamas foi perfeito. Não vou fazer minha análise ainda porque o filme não saiu no resto do mundo, ou seja, a quantidade de gifs é bem escassa, e eu quero e preciso de vários momentos do filme, pra fazer o que eu quero. A única coisa que estragou meu dia, que foi no intervalo da primeira vez que assisti e a segunda, foi um comentário idiota que ouvi na rua e que, me considere idiota também, ou exagerada, me desanimou totalmente. Tirou minha alegria e animação (recuperei depois, mas só na hora do filme mesmo, aliás).

A segunda sessão que assisti foi com amigos e fomos pro shopping em questão à pé. Passando por uma rua, tinha um cara, nem nos incomodamos com ele. Continuamos conversando, e o que eu estava falando era algo como "...eu estava desnutrida", então o cara entrou na conversa, dizendo "você? Desnutrida?" e prontamente eu respondi "pois é". Porque eu respondi? Bom, existem pessoas que ficam por aí escutando trechos de conversas alheias e se metem, às vezes coisas aleatórias, ou até que tenham a ver com o assunto, pelo simples prazer de não sei qual seria esse tal prazer. Por isso respondi e, pelo mesmo motivo fiquei completamente desnorteada pelo que veio a seguir. "Com esse corpão?", ele continuou.

Foi como se eu tivesse sido atingida. Me senti sendo jogada no chão, chutada, agredida de diversas maneiras. Me senti humilhada também, principalmente por ter acontecido na frente dos meus amigos. Quando estou sozinha e esse tipo de coisa acontece também me sinto mal (e costumo ficar preparada pra me defender, rs), mas ter acontecido com os meus amigos do lado só tornou tudo pior.

Sempre odiei esse tipo de interação. Já ouvi homens defendendo isso ao dizer que as mulheres gostam, pois são elogios. Não, não são. Mas o pior é que existem sim mulheres que gostam desse tipo de coisa. Qual a necessidade disso? O propósito? Porque não apreciar aquela moça em silêncio, mentalmente? Imagino se toda vez que eu visse um cara bonito na rua eu fosse até ele e gritasse alguma coisa. Acaba de me ocorrer que eu pareceria louca, então penso: o que esses babacas pensam que estão parecendo? Eles pensam que estão parecendo alguma coisa? O que eles esperam ao proferir tais comentários? É tão estúpido.

Passei o resto do trajeto taciturna, pensando no quão envergonhada eu estava, no quão humilhada eu me sentia e se poderia ter sido evitado. Acho que mesmo se eu não tivesse respondido, o comentário complementar teria sido proferido. Fiquei torcendo que ao ver o filme novamente, minha alegria voltasse e tive medo que nem isso pudesse tirar isso da minha mente. Felizmente depois do filme tudo voltou ao normal (embora eu ainda torture o desgraçado mentalmente - taí outro motivo pelo qual certas coisas deviam ser silenciosas. Eles querem """"""""""elogiar""""""""", eu quero torturar. Imagina se eu falasse ou fizesse algo?). :3

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sonhos crueis

Algumas pessoas se sentem agraciadas e felizes ao sonharem com entes queridos falecidos, mas eu não. Minha avó, por exemplo, em seis anos de morte do meu tio, se não me engano sonhou com ele apenas uma vez... Mas eu, ah, já eu acho cruel. No início era bom sonhar com ele. Mas agora, quando acontecem (e um bocado frequentemente), são sonhos onde nossas vidas continuaram como se a dele nunca tivesse terminado. E isso doi. Neles eu sei que alguma coisa está errada. Em alguns eu mesma me pergunto: mas ele não morreu? O que está acontecendo?, e é simplesmente péssimo. São fragmentos de um futuro e um presente que não tive, não tenho, e nunca terei. Cruel.