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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Mais um: e se?

     Na 2ª série, fui da sala de uma menina que parecia ser insuportável. Falava e fazia todo tipo de besteira, infernizava todo mundo, era chata, inconveniente, tudo que se pode considerar de ruim. Ela conseguia ser mais bagunceira do que todos os meninos juntos. Inclusive, na 3ª série ela foi da minha sala de novo e, uma vez, no recreio e simplesmente do nada, ela jogou a minha Coca-Cola em mim. Eu obviamente fiquei completamente emputecida e queria porque queria que ela me desse outra. Provavelmente não deu. Mas ela foi punida. Eu acho. Enfim. Mas lembro de um dia que ficou marcado até hoje na minha memória  e não sei porque exatamente ficou porque na época eu não havia entendido direito. Somente anos depois que, pensando no ocorrido, eu comecei a ter ideia do que se passava, e muitos sentimentos passaram por mim. Até hoje não me sinto confortável com isso, inclusive.
     Me lembro exatamente onde nos sentávamos. Ela sentava na fileira do canto, da janela, que dava direto pra companhia da polícia que ficava atrás/do lado da escola, e eu, na fileira do lado. Acho que ela na primeira carteira da fileira dela e eu na segunda da minha. Ela começou uma conversa por meio de bilhetinhos comigo, e era uma das coisas mais nonsense que já haviam sido faladas pra mim. No bilhete ela me perguntava o que eu faria se um homem me colocasse no colo dele e tocasse em mim. Eu olhei pro bilhete com a maior cara de WTF? e respondi que não faria nada, ora. Então ela escreveu algo como e se ele tocasse na sua... e, ao invés de completar a frase, ela desenhou algo que mais parecia um cachorro quente, entretanto era compreensível o que ela quis dizer. Foi até interessante que ela desenhou o que supostamente poderia ser um clitóris, que na época eu desconhecia a existência. Ao ler, ela me olhava esperançosamente, e até meio tímida, não sei dizer. Mas eu fiquei escandalizada. Do que diabos ela estava falando? Como assim? A partir daí eu não tenho mais certeza do que aconteceu, a lembrança vai só até essa parte. Mas me conhecendo, eu provavelmente devo ter dado um chega pra lá nela e terminado a conversa. Nunca contei pra ninguém e mantive trancado por muito tempo.
     Anos depois, da primeira vez que lembrei e pensei nisso e cheguei numa conclusão de que essa menina, a quem todos achávamos um saco, poderia ter sido abusada na infância, foi um choque. Eu tinha 8 anos e não havia nada que eu pudesse fazer, mas... Eu vejo relatos de crianças que contam coisas para os pais e então eles entram em contato com a escola, que entra em contato com autoridades e então fazem descobertas e salvam a vida das crianças e adolescentes e fico pensando se isso poderia ter acontecido. Mas primeiro, teria meu tio e avó acreditado em mim? Não que talvez eles pensassem que estivesse mentindo, mas eles teriam dado importância ao que eu contei? Eles entrariam em contato com a escola? E, se entrassem, a escola faria alguma coisa? E se fizessem, minha colega poderia ser salva? O que me leva a outro pensamento: mesmo depois de tirada de perto do abusador, uma vítima de abuso pode ser salva? Algum dia ela ficará bem? De verdade?
     Depois da 3ª série passei muito tempo sem ver essa menina. Quando a vi novamente acho que eu já estava no 2º ou 3º ano do 2º grau, e se não me engano aparentemente ela tinha tomado duas bombas. Provavelmente foi aí que eu lembrei daquilo e comecei a pensar nisso... Bom, sinceramente, tendo acontecido ou não, eu só gostaria que ela ficasse bem. De verdade.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A única coisa que importa

Seu primeiro beijo não é tão importante quanto o último.
A prova de matemática não tinha importância alguma.
A torta, sim.
As coisas em que você é bom e as coisas em que você é ruim são apenas partes diferentes da mesma coisa.
O mesmo serve para as pessoas que você ama e as pessoas que não ama, e para as pessoas que amam você e as que não amam.
A única coisa que importava era que você gostava de algumas pessoas.
A vida é muito, muito curta.

– Dezoito Luas, Margaret Stohl & Kami Garcia.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Princesa Mecânica


Acabei de traduzir por completo o livro Princesa Mecânica e, nesse momento, não há algo que me descreve melhor do que dizer que me sinto infinita. Não achava ser possível se identificar mais com um livro do que já fazia antes, mas aparentemente é e o fiz. Me pergunto se tradutores geralmente são acometidos por tais sentimentos ou se é uma coisa própria, totalmente e completamente minha. Talvez seja.
Já chorei com muitos livros. Nesse, chorei de tristeza, chorei de desespero, e uma coisa inédita: chorei de felicidade. Sim, já chorei com muitos livros. Mas de felicidade foi a primeira vez. Quanto ao choro, inclusive, é algo que eu gostaria de tratar num outro post, mas, no momento, tudo é Clockwork Princess e nada doi (mentira, tudo doi!).
Porque você se deu o trabalho de traduzir o livro? muitas pessoas me perguntaram. Bom, um dos maiores motivos é o fato de não ter previsão dele ser lançado em português e, muito menos, alguma tradução disponível, e eu queria muito, muito mesmo, que minha avó lesse. Me coloquei a traduzir assim que terminei de ler, e demorei  não tinha ideia do quão exaustivo seria traduzir um livro! Trabalhoso também. Mas devo admitir que demorei mais porque deixei de traduzir por vários dias. Foi trabalhoso e exaustivo, mas agora sinto falta. Minha avó me aconselhou a traduzir outro livro, mas não é do ato de traduzir que eu sinto falta. Eu sinto falta desse livro. Sinto falta desses personagens. Sinto falta dos meus amores, de uma forma que nem mesmo Harry Potter me fez sentir.
As Peças Infernais se tornou, definitivamente, uma das minhas séries/trilogias favoritas. Se compara a Jogos Vorazes no quesito o que causou em mim. Amo tanto, tanto, todos os personagens... Will. Oh, Will. Oh, meu Will. Não apenas o Will, mas me senti tão profundamente conectada com ele. E com a Tessa também. Ambos são como representações minhas... Talvez do que eu gostaria de ser, do que eu gostaria de ter, do que eu gostaria de conseguir. Como uma vez, no Príncipe Mecânico, disse meu querido Will Herondale:

Foram os livros que me fizeram sentir que talvez eu não estava completamente sozinho. Eles poderiam ser honestos comigo, e eu com eles.

Apesar de saber agora que em meados de novembro o livro será lançado aqui no Brasil, se alguém quiser lê-lo, traduzido com muito carinho e amor por mim, ficarei feliz em passar. Qualquer coisa é só me contatar no facebook ou no twitter (deixando claro que eu não estou ganhando nada com isso, e nem pretendo usar nada disso para fins comerciais). ;)


PS: Preparem-se para um Desafio de, possivelmente 30 dias, das Peças Infernais em breve, haha!