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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pokémon e memórias entrelaçadas

Demorei muuuuuuuuito pra finalmente falar sobre Pokémon Go, mas finalmente resolvi. Não vou dar dicas de jogo, nem nada parecido, só vou falar mesmo o quanto eu estou feliz por isso existir.
Eu não lembro muita coisa da minha infância, principalmente do que é chamado de primeira e segunda infância (de 0 a 3, e então de 3 a 6), mas das memórias que tenho, grande parte delas envolve Pokémon.
Quando Pokémon estreou no Brasil eu tinha 5 anos e, obviamente não sei quando exatamente foi, mas sei que foi em 1999. Eu estudava de tarde, de 13h até 17h30, e lembro que ele passava no Cartoon Network às 17h, então eu não podia ver. Entretanto o mesmo episódio repetia às 22h, aí eu fazia questão de assistir. Brigava com tudo e com todos, permanecia acordada, justamente pra poder assistir.
Justamente nesse ano meu avô morreu, e não sei se por sermos muito próximos ou por ser meu primeiro contato com a morte (no caso a primeira vez que um ente querido morreu), passei a frequentar uma psicóloga. Meus tios e minha avó reclamavam com ela e tentavam fazer com que ela me convencesse a dormir mais cedo, mas eu nunca cedi. Tenho uma lembrança bem nítida minha dizendo: tá bom, eu vou dormir, mas assim que acabar Pokémon.
Naquela época eu tinha um bichinho de pelúcia de no máximo uns 20 cm do Pikachu, que eu amava. Eu também sempre tive muitos bichinhos de pelúcia, mesmo que eu sempre tivesse sido muito alérgica (eles não ficavam necessariamente no meu quarto, eu só os tinha mesmo), então eu arrumava uma mochila e colocava vários dentro dela, encaixava o Pikachu no meu ombro, colocava um boné e saía na minha jornada, caminhando pelo lote e pela casa da minha avó.
Eu tenho um primo quatro anos mais velho, e quando lançou o álbum de figurinhas de Pokémon, claro que ele tinha. Não sei porque eu não pude ter, mas por anos eu quis fazer vários álbuns e nunca me deixaram  o primeiro álbum que fui fazer foi aos 11 anos, o de Harry Potter e o Cálice de Fogo. Por algum motivo que também não sei, ele tinha dois: um completo e um incompleto, e eu fiquei tããão feliz quando ele me deu o incompleto! Quando ele me deu o álbum nem mesmo vendiam mais as figurinhas e eu não poderia completar, mas mesmo assim eu fiquei feliz. Acho que eu ainda tenho o álbum (os meus de Harry Potter eu ainda tenho, haha).
Uma vez meu tio me deu um pôster que vinha com um CD com músicas de Pokémon. Nesse dia meu primo estava na minha casa e, assim que meu tio me entregou o pacote, meu primo encostou no ombro da mãe dele e começou a chorar HUAHUAHAUHA eu fiquei completamente confusa com a cena, massssssssssss... não tinha nada que eu pudesse fazer. Na época ele era extremamente mimado (e depois disso a mãe dele foi comprar pra ele também).
Eu lembro até hoje das músicas. Tinha dois CDs: um que foi vendido na banca e um que era vendido nas Lojas Americanas. O das Lojas Americanas eu só fui ter muito tempo depois, e o da banca só vinha quatro músicas: O Tema de Pokémon, Para Ser Um Mestre, Canção da Misty e PokéRAP. Eu escutava essas músicas TODOS OS DIAS. O TEMPO TODO. Sabia tudo de cor. O Tema eu nunca esqueci, e quando Pokémon Go lançou oficialmente aqui no Brasil eu me peguei sem parar cantarolando Para Ser Um Mestre e fiquei chocada que ainda sabia a letra. A Canção da Misty eu não lembro muito bem, mas acho que se ouvir de novo eu posso até cantar, quem sabe? Eu fico de cara como esse tipo de coisa ficou, enraizou em mim, enquanto matemática... Parei, haha.
Quando começou a se falar sobre Pokémon Go e, principalmente, quando foi lançado aqui, foi maravilhoso. Não vou mentir que não estou decepcionada de ainda ser nível 12 e de ainda não ter conseguido capturar nem o Squirtle e nem o Charmander (o Squirte já fugiu da PokéBola duas vezes, fala sério), mas eu ainda tô tão animada. Eu ainda fico querendo sair, explorar, pegar tudo de maneira honesta haha. Me deu ânimo pra sair, de ficar fora de casa.

Eu quero ser o único que pode aguentar,
O teste de ser o melhor,
Manter o pique, empenhar,
Ser o mestre...

Ainda vou realizar o sonho de ser uma Mestre Pokémon ♥.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

The Hollow Men

The Hollow Men
T.S. Eliot

I
We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rat's feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us  if at all  not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

II
Eyes I dare not meet in dreams
In death's dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind's singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death's dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat's coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer

Not that final meeting
In the twilight kingdom

III
This is the dead land
This is the cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man's hand
Under the twinkle of a fading star,

Is it like this
In death's other kingdom
Waking alone
At the hour we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.

IV
The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms

In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death's twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

V
Here we go round the prickly pear
Prickly pear, prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o'clock in the morning

Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls The Shadow
For Thine is the Kingdom

Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long

Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls The Shadow
For Thine is the Kingdom

For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang, but a whimper.

Os Homens Ocos

Os homens ocos
T.S. Eliot, tradução Ivan Junqueira

I
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam  se o fazem  não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como homens ocos
Os homens empalhados.

II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
A hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava, figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

Disparidades

Depois de meses eu finalmente voltei a assistir Doctor Who. Passei anos contemplando a possibilidade de começar a assistir a série, então comecei, e depois parei. Agora pretendo continuar e quem sabe consigo alcançar a galera... daqui há alguns anos, conhecendo a mim mesma e ao meu ritmo, haha.
Sábado eu estava assistindo o 6º episódio da 3ª temporada, The Lazarus Experiment, e fiquei encantada quando um personagem recita parte de um poema que eu conhecia. Não me considero expert em poesia  na verdade não conheço quase nenhuma, mas sempre fico em estado de êxtase quando eu entendo alguma referência, e por lembrar tão vividamente assim de uma poesia, acima de todas as coisas, foi bem importante pra mim.
Encontrei um trecho do poema, mais especificamente o final, em um dos livros que li alguns anos atrás. Tratei de procurar e li, em inglês mesmo, The Hollow Men (Os Homens Ocos) e de alguma forma o poema ficou em mim. Anos depois, o reencontro novamente, e desta vez acabo por lê-lo em português também e é este o motivo do post.
É muito estranho e maravilhoso entender mais do que uma língua!
Talvez seja a maneira que as palavras soam, mas em português eu não senti a mesma coisa que senti quando li em inglês.
E são tantas outras palavras.
Tantas outras expressões que não parecem certas ditas em português, ou em inglês mesmo. Me incomoda tanto pensar ou falar alguma coisa que não parece certo porque não está na língua certa.
O poema continua impactante, mas não da mesma forma. Não pra mim. Queria tanto poder encontrar uma explicação satisfatória pra isso...

Em seguida mais dois posts: um com o poema traduzido, e outro, com o original.
- Os Homens Ocos;
- The Hollow Men.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Bowie

Como sempre, eu não sei como iniciar o meu texto  e dessa vez chega a ser um bocado mais difícil, até porque esse não é exatamente um tributo, uma homenagem, ou o que for. Acredito que este seja mais um post contemplando a morte.
Toda vez que uma pessoa famosa morre temos sempre aquelas pessoas que agem como se fosse o fim do mundo e aquelas que agem até como se fosse um insulto alguém ficar remotamente chateado pelo fato. Como para todos os outros assuntos, geralmente estes últimos são aqueles que postam comentários maldosos e afins. Acho que talvez voltarei nesse tópico mais adiante.
Uma das coisas mais chocantes da morte de uma celebridade é, talvez, o lembrete de que eles são humanos também e, como humanos, eles morrem. E com esse choque vem a contemplação da nossa própria mortalidade, e para alguns pode ser o primeiro encontro com a morte, caso nunca tenham tido algum parente querido que tenha morrido.
Pessoas comuns morrem todos os dias, vi uma pessoa comentando. É verdade. Mas em relação a isso eu acho que tem uma diferença  ou não sei bem se é uma diferença, e não sei se a minha linha de pensamento é compreensível (quase nunca o é para outras pessoas), mas na minha percepção as pessoas públicas de quem nós gostamos, nos identificamos, começam a fazer parte de nossas vidas às vezes de uma forma que até uma pessoa que vive próxima de nós não o faz. Conheço pessoas que não tem conexão nenhuma com os próprios parentes e não poderiam ligar menos caso aconteça algo com eles, mas se alguém com quem se identificam morrer, aí sim seria sentido. A pessoa pode não nos conhecer, mas nós o conhecemos. De alguma forma isso parece bastar, porque alguns trabalhos realmente salvam vidas. Seja uma música, um filme, livro, desenho, pintura.
Não sou hipócrita a ponto de dizer que sou fã de carteirinha do David Bowie. Não conhecia o trabalho completo dele, conhecia bem pouquinho, mas o admirava. Ele foi uma pessoa fantástica, à frente de seu tempo; e mesmo que ELE nunca tenha ME conhecido, fico feliz por saber que vivi na mesma época em que ele também esteve vivo.