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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Cirurgia enfim

Não faço ideia se já mencionei alguma vez aqui sobre a cirurgia que a minha avó precisava fazer, mas independentemente se sim ou não, a tal cirurgia aconteceu.
Antes de eu apagar tudo e recomeçar o blog praticamente do zero, eu fiz um post falando sobre o AVC que ela sofreu em setembro de 2012 (15 de setembro de 2012, para ser exata). Ela não passou muito tempo no hospital porque graças aos céus o derrame foi leve, e ela se recuperou graciosamente. Hoje em dia, só se você reparar muito, você nota que o lado esquerdo do corpo dela é levemente mais caído do que o direito.

Com o AVC descobrimos várias coisas que não teríamos descoberto caso não acontecesse e desde então estivemos esperando por avaliações e, então, uma cirurgia. Eu não faço ideia dos termos médicos, principalmente tendo em vista que eu não fui a nenhuma consulta com a minha avó (minha tia fez questão de ir a todas), então sei apenas o que ambas me disseram e o que eu vou dizer é o que eu entendi: uma válvula do coração dela estava falhando e precisava ser trocada. Foi difícil vê-la piorando cada vez mais, sabe? Ela começou a ter tosses fortes e se cansava rápido. Chegou uma época que só de levantar ela já se cansava e até tomar banho era uma tarefa esgotante. Ela não podia mais sair sozinha porque era possível que ela tivesse um blackout na rua e ninguém pra ajudar.

Mas então desde novembro ou início de dezembro fomos avisadas que minha avó seria chamada para a cirurgia assim que um leito no CTI ficasse disponível, e ela foi instruída a fazer uma malinha com coisas essenciais. Dia 8 de janeiro recebemos a ligação e no dia 10, uma sexta, ela fez o procedimento. Passou quatro dias no CTI e então mais seis dias na enfermaria. Preciso admitir que o tempo que ela ficou no hospital me fez ter certeza de que eu jamais faria parte da Abnegação (uma facção vinda do mundo de Divergente, que culpava o egoísmo como motivo de o mundo estar como está. Veja o fim do post para mais informação a respeito :B). E fez eu me sentir horrível.
Eu não aguentava as noites que eu passei no hospital. Foram cinco vezes: de quinta pra sexta antes da cirurgia, depois de terça pra quarta, quinta pra sexta, sábado pra domingo e domingo pra segunda. Esses últimos dois dias aí também foram excruciantes - na realidade todos foram. Na primeira noite eu "dormi" numa cadeira. Digo "dormi" porque consegui cochilar por um curto período de tempo entre 00:30 e 02:00, depois disso não mais. Passei o resto da noite desconfortável e desenhando (com as costas morrendo de dor porque eu tenho uma dor intensa na escápula). Depois consegui respirar livremente porque no CTI não precisa e nem pode ter acompanhante, o que me deu quatro noites de sono em casa. Meu corpo quase se recuperou. Quase.
Mas na terça tive que voltar. Dessa vez, no quarto novo tinha uma cadeira reclinável. Dura, porém maior. Só que tem um negócio: eu não conseguia dormir daquele jeito, então eu basicamente deitava na parte de sentar, encolhida. Rendia uma baita de uma dor nos quadris. Eu precisava arranjar alguém pra ficar no meu lugar porque eu não aguentava. No segundo em que eu bati os olhos na minha avó deitada na cama, inchada, eu sabia que não conseguiria. Mas eu não tinha escolha. Eu passei grande parte da noite apavorada. Eu tremia enquanto tinha que dar comida pra ela na boca. Não sabia exatamente como me portar. Fiquei extremamente insegura nas cinco vezes que tive que levá-la ao banheiro durante a noite (as enfermeiras fizeram a sacanagem de dar um remédio chamado furosemida pra ela às 22:00, e esse remédio faz com que ela urine bastante. É por isso que em casa ela toma de manhã; mas nããão, eu não sei quem sacaneou mais: os médicos ou os enfermeiros nesse quesito. Enfim). Eu também estava prestes a passar por um momento feminino difícil, mas ninguém precisa saber disso. Então inventei uma desculpa e então minha tia que voltou de Goiás aceitou ficar com ela na noite seguinte (o que é engraçado, já que antes da cirurgia ela me disse: "depois da cirurgia eu assumo"). Mas depois eu estava lá de novo. O corpo dolorido, a mente em pedaços. No dia seguinte precisava de uma nova desculpa, mas na verdade usei a mesma, mas minha tia declinou. Disse que passar a noite acabou com ela, principalmente porque ela teve que trabalhar o dia inteiro no dia seguinte. Perdi. Mas não totalmente. Convenci minha prima a ficar com ela. No dia seguinte voltei. Todos os dias fazia um calor desgraçado, mas naquela noite fez frio. Muito. Usei a toalha da minha avó como cobertor. Duas pessoas me perguntaram se eu tinha frio, e apesar de eu dizer sim, ninguém fez nada por mim. Depois vieram perguntar porque eu não pedi um cobertor ou um lençol. Como a minha avó diz, quase "saí com eles nas costas". Mais cedo eu havia pedido um analgésico pra minha dor de cabeça e nas pernas ou um antialérgico, porque de alguma forma algo desencadeou uma crise, mas me negaram dizendo que só podiam medicar pacientes e com uma receita médica. Resolvi não pedir mais nada. Além do mais, quanto ao cobertor, porque nenhuma das duas pessoas fez nada por mim?
Na segunda não tive sorte. Não tinha ninguém que pudesse pegar o meu lugar. Voltei. Como não tive nem como descansar direito em casa e nem como relaxar meu corpo, eu estava pior. Meu pescoço, ombros, escápula direita, quadris e costas doíam como loucos. E o tempo todo eu me sentindo miserável. E o tempo todo eu me sentindo furiosa. E o tempo todo eu me sentindo culpada. Quando falei pra minha tia (minha dindinha) sobre a primeira noite, ela me disse que era difícil pra ela também, mas ela continuava porque amava a mãe. Eu não amava a minha avó? Eu não a amo? Todos os dias eu pensava nisso e as noites também...

É engraçado como o tempo não passa, mas graças aos céus minha avó foi liberada na segunda feira - enquanto era pra ser no domingo, meu sofrimento poderia ter sido diminuído! Mas no sábado nenhum médico, NENHUM MÉDICO foi vê-la e realizar uns exames, então ela teve que ficar o domingo pra fazê-los. Viemos pra casa, finalmente. Demorou quase que a semana inteira para as dores sumirem, mas outra dor continua aí: um novo pesadelo pra minha lista. Agora me encontro num hospital, perdida tentando encontrar o leito da minha avó, passando de quartos em quartos, quebrando algumas paredes até, e encontrando pessoas apavorantes. Outro dia até sonhei que era um hospital e uma escola ao mesmo tempo (a minha antiga, o Tiradentes), e os professores não me deixariam entrar na sala porque me atrasei no quarto da minha avó. Eu procurava por alguém que me desse uma declaração pra poder entrar, mas não tinha ninguém. Eu chorei nesse sonho, haha.
Não tem sido menos difícil, mas pelo menos tenho minha cama. Estou na minha casa. Agora tenho que limpá-la e fazer comida. A partir de semana que vem dia sim dia não eu vou ter que dar banho nela. Não estou entusiasmada. E me sinto culpada. Muito.


PS: Minha avó foi internada dia 8 e liberada no dia 19. No dia 28 voltamos ao hospital pra retirar os pontos.
PPS: No mundo de Divergente, de Veronica Roth, a cidade de Chicago futurista e aos pedaços é dividida em cinco facções: Amizade, aqueles que culpavam a agressividade pela causa dos problemas do mundo. Franqueza, os sempre sinceros mesmo que doa, que culpavam a mentira e a duplicidade; Audácia, os que culpavam a covardia; Erudição, que culpavam a ignorância e Abnegação, altruístas, que culpavam o egoísmo. Os membros da Abnegação vestem cinza e roupas iguais, não usando coisas que evidenciem o corpo ou mostrem-no. Não tem espelhos em casa (apenas um e só podem se ver nele uma vez a cada três meses, quando é o dia de cortar o cabelo), entre outras coisas. Eu jamais faria parte deles.
PPPS: Pett, se você ler isso, sinto muito. E apesar do meu "sofrimento", eu jamais teria coragem de te pedir pra ficar lá.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

2013

[Eu gostaria de ter escrito e publicado este post no primeiro dia do ano, mas não pude porque minha internet resolveu me deixar na mão por um dia e meio. Apenas tarde da noite do dia 2 eu consegui me conectar, porém muito, muito ruim]. 

Tinha pensado também em escrever no último dia do ano. Mas como escrever sobre meu ano sendo que ele ainda não havia acabado? Muita coisa poderia acontecer... Mas é claro que não aconteceu.
No dia da estreia de Catching Fire, quando estava na fila do refrigerante+pipoca com meus amigos, lembro de estarmos conversando sobre se o ano valeu a pena, se foi bom, se foi ruim.
- Hm, 2013 foi bom porque o Cruzeiro foi campeão brasileiro e Catching Fire tá estreando.
- Nossa, só coisa que aconteceu no final. Não fosse por isso teria sido uma merda, né?
- Uh, é, acho que sim.
Então é por isso que nesse momento me encontro vasculhando meu blog e facebook em busca de memórias perdidas. Ou algo assim.