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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Depressão pré aniversário

Há alguns dias foi o aniversário da minha tia e o da minha prima, e desde antes disso eu já vinha sentindo minha própria depressão pré aniversário. Já há alguns anos eu me sinto desse jeito, mas, ao observar minha tia e como ela se sente e se porta em relação ao seu aniversário, me pergunto se eu já não ficaria assim independentemente da morte do meu tio ou não. O fato dela ter acontecido somente acelerou tal processo.

O aniversário da minha prima é dois dias antes do aniversário da mãe, e ela implorou que fosse feita uma festa do pijama, e assim foi. Eu fui convocada pra ajudar. Não é como se eu realmente tivesse uma escolha, inclusive. No dia seguinte houve um churrasco com a família, e alguns pais que iam buscar suas filhas acabavam ficando por lá um tempinho. Minha tia passou seu aniversário inteiro fazendo comida, limpando e lavando louça e servindo pessoas. Não posso dizer que fui uma pessoa caridosa e a aliviei de suas tarefas, mas, afinal, eu fiz o que me foi pedido, não fiz? Fui babá das meninas e até fiz umas coisas aleatórias. Pra completar, no final do dia, a cunhada dela ainda lhe fez o favor de deixar o filho e mais um menino lá sob supervisão da minha tia. Eu sabia que ela estava cansada, quase morta, na realidade. Eu deveria ter dito algo, feito com que a cunhada visse a razão que ela tão convenientemente não via, que se os dois meninos quisessem brincar juntos que ela os levasse para sua própria casa. Mas não foi o que eu fiz. Eu recolhi minhas coisas e esperei ansiosamente para ir pra casa. Porque eu não falei por ela? Já fiz isso tantas vezes. Já falei coisas por minha avó e já fui tão malvista antes, porque não fiz novamente? Gostaria de tê-lo feito.

E tudo isso só ajudou a piorar o que eu já sentia. Qual o motivo de eu não gostar de aniversário? O que, de fato, eu não gosto: de comemorar o aniversário ou fazê-lo? No fundo, a realidade seria que eu não gostaria de ter nascido? Ao mesmo tempo que não quero comemora-lo, parece errado não fazê-lo. Não exatamente parece errado  ou pareça, eu realmente não sei , mas é como se realmente não houvesse outra data pra reunir pessoas queridas na minha casa ou pra fazer algo que eu queira, sem ter algum pretexto realmente convincente. Argh, eu não sei. E quando penso sobre, a única coisa que consigo fazer é justamente, fazer sons guturais que não fazem nada a não ser mostrar frustração. Ah, frustração, minha velha amiga. Você nunca vai me deixar, não é?

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Felino

(gosto como, de certa forma, meus olhos pareceram felinos nessa foto)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Mãe,

Mãe,
como foi quando seu
cérebro se tornou canibal? Quando
a sua mente começou a ingerir a si mesma
seu cérebro voraz, e todos os seus
pensamentos de repente tinham dentes?

Mãe,
como foi quando você perdeu
a sua sombra? Ela se embrulhou
em uma mala e deixou você para criar
os seus demônios sozinha? Você esqueceu
a forma da sua própria silhueta?

Mãe,
o espelho começou a te contar mentiras?
você olhou no vidro e viu
coragem e glória e sua própria mão
segurando o coração como um troféu? Foi
uma vitória ou um prêmio de consolação?

Mãe,
a noite você transformou a sua cama em
um campo de batalha? Você brandiu a sua
insonia como uma arma ou você
acenou seu lençol como uma bandeira branca
de rendição e se tornou vítima da guerra?

Mamãe,
por favor, quando o papai te segurou foi
como se uma guilhotina afagasse o seu pescoço?
os dedos dele foram como facas tentando
abrir a sua pele como um vestidinho preto?
você amou o seu marido ou a sua arma?

Mamãe,
por favor, eu tenho os seus olhos e eu tenho a sua
mente e quando eu me balanço como uma folha é o seu
fantasma tentando me ninar até dormir? É você
a canção de ninar na minha cabeça ou eu só preciso
aumentar a minha dosagem de novo?

Mamãezinha,
se eu seguir os seus passos, você teria
um quarto esperando por mim? Você me colocaria
na cama e beijaria a minha testa e me diria
que monstros são de livros de histórias e não
para garotinhos tentando uivar para a lua?

Mamãezinha... Você vai costurar a minha alma junta de novo?


 Mãe?, S.N. Fonte.