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sábado, 7 de março de 2015

Na parede

Não era o tipo de conversa que eu queria ter hoje. Não era o tipo de conversa que eu precisava ter hoje. Era o tipo de conversa que poderia ter sido outro dia. Era o tipo de conversa que poderia ter esperado.
Meu irmão tem uma foto minha pendurada na parede de seu quarto.
Feliz.
Triste, porém.
Doce.
Amargo, também.
Agridoce.

Eu preferiria nunca ter sabido.

domingo, 1 de março de 2015

Progenitora

Minha mãe biológica está internada numa clínica de reabilitação.

Já falei sobre ela aqui antes? Já devo tê-la mencionado aqui ou ali, mas ela não é um assunto recorrente porque eu não tenho exatamente o que falar sobre ela. Então lá vai: além de ser minha progenitora, pra mim, sua característica mais importante é seu vício em crack.
Me abstenho de falar sobre ela porque geralmente as pessoas me acham insensível, o que não gosto que pensem que sou (a não ser que eu realmente esteja querendo que pensem que eu seja, então tudo bem. Mas normalmente não é esse o caso), mas sabe o que é? Eu não tenho vínculo algum com ela. Não temos uma história. Não temos laços. Não existe amor, carinho, nenhuma memória. Eu não a conheço, ela não me conhece  como posso ser tachada de insensível, e porque posso sê-lo, pelo simples motivo de não me importar com uma mulher que não conheço? Só porque ela me pariu? Pelos deuses, isso não significa que ela é minha mãe!
Sabem, ela pode ter me carregado em seu ventre por nove meses (quase dez, na verdade. Eu deveria ter nascido no fim de fevereiro, mas nasci no dia nove de março porque ela resolveu me segurar. Não faço ideia do que se passou em sua cabeça, mas ela simplesmente não contou a ninguém que estava tendo contrações há dias  eu teria nascido naturalmente não fosse a falta de dilatação. Minha pele descolava do meu corpo), mas disso ela não teve escolha. Até porque não se privou de nada durante a gestação. Bebeu, fumou  pode até ter se drogado.

Hoje eu estava tendo um dia perfeitamente agradável até resolver finalmente atender a sexta ligação da minha irmã. Eu amo minha irmã mais velha, mas eu estava na festa de aniversário de uma amiga. De alguma forma eu sabia que o que eu ouviria naquele telefonema tomaria muito de mim, e eu não queria isso. Eu não estava bem no início do dia, mas depois fiquei, não queria ficar mal de novo. Não sei como ou por que, mas eu sabia que teria a ver com ela. Mas depois de cinco ligações ignoradas, era melhor acabar logo com isso. Atendi o sexto telefonema e recebi a bomba: nossa progenitora quer me ver. Pediu que eu fosse visitá-la na clínica.
Minha irmã até me ofereceu uma data marcada inclusive, próximo domingo, dia 8. Um dia antes do meu maldito aniversário. Eu já não estou com a cabeça, com a animação, com vida o suficiente pra passar por ele, então vem isso. Chega mais isso para mutilar-me também.
Inclusive nesse momento nem tenho cabeça pra continuar qualquer coisa que tenha começado aqui. Sinto muito.