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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Peeta Mellark e a masculinidade não convencional

Título bem grande, mas sou péssima em fazê-los... Esse post tem, de certa forma, função dupla: vou comentar um pouco sobre como as pessoas julgam o Peeta por alguns motivos e depois sobre a masculinidade não convencional retratada nos livros v e, de certa forma, não consigo deixar de pensar que NÃO estejam relacionadas.

Atenção, se você não leu A Esperança/Mockingjay, ou está esperando a conclusão do filme em novembro, não leia abaixo, pois contém spoilers. Isto é, se você liga pra isso, claro.





Obviamente ele não é o cara mais forte, ou o melhor lutador, nem mesmo o mais atlético, mas nada disso o define como pessoa. Acho que preciso deixar claro desde o início que gosto de ambos os personagens masculinos principais, tanto Gale Hawthorne quanto o próprio Peeta (e, apesar de no início ter lutado muito contra, pensando muito no assunto não consegui deixar de perceber o quanto o triângulo amoroso de Jogos Vorazes realmente é importante, mas não pelo romance em si, mas porque os dois garotos representam partes da Katniss  mas isso é um assunto pra outra hora); entretanto este é um post sobre o filho do padeiro. Acho importante dizer também que os dois representam coisas muito diferentes para ela. Então, seguindo em frente.

Saindo apenas do território dos livros, uma cena que eu acho bacana e que é bastante cômica para alguns acontece logo no fim do primeiro filme, quando Katniss propõe o ato do suicídio duplo com as amoras-cadeado, ela tem um palpite, ela não sabe se o plano realmente vai dar certo, então na prática, aqueles são seus últimos momentos de vida. Acho que se você prestar atenção, você vê nessa hora que tudo o que Peeta fez e disse para ela durante os jogos havia sido verdade, que para ele aquilo não era fingimento  pois enquanto Katniss passava seus últimos momentos de vida olhando ao redor, para a floresta, aquilo que ela mais amava, Peeta passava olhando para ela, passando a mão em seu cabelo, porque era assim que ele queria partir, disso que ele queria lembrar. Digo isso porque da primeira vez que li Jogos Vorazes eu passei toda a parte dos jogos desconfiando do dito amor, haha.

Pra mim, a masculinidade não convencional do Peeta é tão relevante quanto a feminilidade não convencional da Katniss. É péssimo ver todo mundo louvando e parabenizando a personagem por ser uma figura de ação feminina tão única, e então ouvir essas mesmas pessoas zombando do Peeta por ser mais frágil e um bichinha (veja bem, não estou criticando a Katniss e seu papel, de maneira alguma, critico quem fala sobre os gêneros de maneira unilateral apenas).
Sim, Peeta é um pintor e desenha o por do sol e sonha em pintar um arco íris direito, assa biscoitos e pães e decora bolos e afins. Ele frequentemente está sem nenhum tipo de armamento e precisa da proteção da Katniss. Durante o desenrolar da história precisa ser salvo várias vezes e, eventualmente, é capturado e precisa ser resgatado.

Mas e daí? Da mesma forma que a Katniss pode ter uma habilidade assombrosa com o arco e flecha, ser uma líder em combate e ainda assim manter sua bondade, sua humanidade e seu altruísmo, o Peeta também pode pintar, cozinhar, não ser uma figura de ação convencional masculina e mesmo assim ser o protagonista masculino e o heroi romântico da história. Com tudo isso ele pode ser atraente para a Katniss e capaz de ações extremamente heroicas, enquanto ainda necessitando ser resgatado e assando biscoitos (não ao mesmo tempo, claro).

E se você não consegue ver o quão relevante isso é para a história  e também para uma geração mais jovem - para entender que a masculinidade tradicional e aprovada pela mídia também é uma imposição e uma construção social, tão restritiva e reacionária quanto a feminilidade tradicional forçada pode ser, então a piada é você. E quanto a história... Se no final de A Esperança/Mockingjay você não percebe o quanto a Katniss ama, precisa e quer o Peeta, você também tem, além de tudo, sérios problemas de interpretação.

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