Pages

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Influência

Há alguns anos li O Retrato de Dorian Gray e, apesar de algumas partes terem sido cansativas, foi um livro fascinante. Não há um personagem que não seja interessante e intrigante, em particular Sir Henry Wotton, que também responde por Lord Henry. Até ouso dizer que é um dos personagens mais inteligentes e incríveis que já vi, saindo d'O Retrato e entrando na lista de personagens que admiro. Uma de suas falas, inclusive, está entre uma das frases que as menininhas mais postavam em seus perfis do Orkut e em descrições de fotos no Facebook, com suas variações: Definir é limitar.

Uma coisa que ficou em minha mente foi uma conversa que ele tem com Dorian Gray quando o conhece no ateliê de Basil Hallward sobre influência. Isso tudo porque Basil tinha receio de apresentá-los por acreditar que sua influência em Dorian fosse algo ruim, que o mudaria, que o corrompesse.
- Boa influência é coisa que não existe, senhor Gray. Toda influência é imoral... Imoral do ponto de vista científico.
- Por quê?
- Porque influenciar uma pessoa é emprestar-lhe a nossa alma. Essa pessoa deixa de ter ideias próprias, de vibrar com as suas paixões naturais. As suas qualidades não são verdadeiras. Os seus pecados, se é que existe o que se chama pecado, vêm-lhe de outrem. Essa pessoa torna-se o eco da música de outra pessoa, intérprete de um papel que não foi escrito para ela. A finalidade da vida é para cada um de nós o aperfeiçoamento, a realização plena da nossa personalidade. Hoje, cada qual tem medo de si próprio; esquece o maior dos deveres: o dever que tem consigo mesmo. Naturalmente, o homem é caridoso. Dá de comer ao faminto, veste o maltrapilho. Mas a sua alma é que sofre fome e anda nua. A coragem abandonou a nossa raça. Talvez nunca a tenhamos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião... Eis as duas coisas que nos governam. 
Contudo, sou de um parecer que se o homem vivesse plena e totalmente a sua vida, desse forma a todo sentimento, expressão e toda ideia, realidade a todo devaneio... Creio que o mundo receberia um novo impulso eufórico, um impulso de alegria que nos faria esquecer todos os males do medievalismo e voltar aos ideais helênicos... Talvez a algo mais belo e mais rico do que o próprio ideal helênico. 
Mas o mais valoroso dos seres humanos tem medo de si mesmo. A mutilação do selvagem subsiste tragicamente da renúncia que nos estraga a vida. Somos punidos pelo que enjeitamos. Todo impulso que nos empenhamos em sufocar incuba no nosso espírito e nos envenena. Peque o corpo uma vez, e estará livre do pecado, porque a ação tem um dom purificador. Nada restará então, salvo a lembrança de um prazer, ou a volúpia de um arrependimento. A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder-lhe. Resistamos-lhe, e nossa alma adoecerá de desejo do que proibimos a nós mesmos, do que as suas leis monstruosas tornaram monstruoso e ilegítimo. Tem-se o dito que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. Também é no cérebro, e só nele, que ocorrem os grandes pecados do mundo.
A genialidade de Oscar Wilde é também algo que me admira muito. Ele, no século XIX, tinha em mente e expôs temas que nos continuam a atormentar. Temas que sempre serão atuais, seja no século XIX, XX ou XXI. Porém há partes que não poderia concordar mais e outras que prontamente refuto. É inegável que ocorre exatamente o que Lord Henry diz sobre influência, mas em outros casos imagino que seja diferente. Em alguns casos amigos influenciam uns aos outros, emprestam-se suas almas e tornam-se um só. Tornam-se um só mas continuam sendo vários. Cada um continua com suas ideias, paixões e sonhos – compartilham-nas, é verdade, mas não é como virassem reflexos um do outro, mas cúmplices. Se um alcança um objetivo, o outro vibra. Mas não o têm como dele, continua em busca do seu, de se realizar também. Eu exerço influência sob meus parentes e amigos, e eles em mim. Já a maneira de reagir a isso é individual. Quanto ao pecado, não há o que tirar nem por. Pelo menos não nesse momento em que minha mente está a dar voltas e piruetas pensando sobre influência, haha. Quem sabe depois, certo? ;)

Nenhum comentário:

Postar um comentário