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domingo, 29 de dezembro de 2013

Você TEM que se aceitar

Não, eu não tenho. E você não pode me obrigar.

Apesar das minhas palavras, eu totalmente entendo que para viver bem, é ideal que a pessoa se aceite, se goste do jeito que é; mas não é uma obrigação. Com as pessoas dizendo dessa forma, já não basta todas as neuras, inseguranças, todos os complexos, aí vem mais um sentimento de culpa justamente por não conseguir me aceitar.
De todos os meus complexos, eu tenho dois que me chateiam e aborrecem mais: minha altura e meus quadris.

Eu sempre fui pequena. Sempre fui a primeira da fila, tinha que comprar roupas às vezes um tamanho menor, e roupas um tamanho maior sempre duravam bastante, sempre fui provocada. Desde bem novinha eu já havia começado a usar saltinhos e, principalmente, plataformas, porque eu queria ser maior. Precisava ser. Com 10 ou 11 anos foi me dada a oportunidade de, quem sabe, ficar mais alta do que a altura que eventualmente eu viria ter. Mas eu, emburrada, declinei. Até quase 14 anos eu não aceitava meu corpo, mais especificamente, não aceitava mudanças. Escondi meus seios até essa idade, que já estavam muito difíceis de esconder. O que aconteceu é que me levaram numa médica que precisava saber como estava meu desenvolvimento. Eu me recusava a responder. Quase fiz um escândalo pra não tirar minha blusa (já que eu não respondia, ela tinha que saber de alguma forma). Resultado: fui pra casa com nada feito e minha avó me fez assinar uma folha que dizia que, se eu não crescesse, a culpa era somente e totalmente minha. Hoje mal tenho 1,51m e fico mais do que extremamente aborrecida com isso. Me afeta também no fato de eu pensar que ninguém se sentiria atraído por mim ou quereria algo comigo por causa da minha altura (ou falta dela). Que cara vai querer andar de mãos dadas, abraçar e beijar uma garota que tem o tamanho de uma criança? Nem adianta vir com piadinhas sem graça de pedófilos, porque eu não tenho corpo de criança e isso é grande coisa pra eles. Isso... Sempre me pega. Sempre.

A puberdade me trouxe o que meus genes reservavam pra mim: um quadril gigantesco. Algumas pessoas tem um quadril maior, é verdade, mas o que faz parecer que meu quadril é enorme é minha altura. Eu, de salto ou plataforma, pareço ter um corpo até proporcional. Agora me coloque sem eles e, o que verá? Um kibe. Algumas roupas minhas não posso ousar usar sem eles, a diferença é realmente gritante e eu odeio ter o formato de um losango.

Obviamente ainda tenho outros complexos. Como minhas coxas muito grossas que se encontram (usar short mais curto ou saia sem um shortinho por baixo nem pensar, assaduras might come), panturrilhas grandes, pés gordos ("pézinho de pão"), tórax relativamente largo, dedos curtos e gordos, unhas de criança, arcada dentária torta parecendo que meus dentes estão descendo, testa relativamente larga, olhos castanhos opacos e sem vida. E nem começaria a listar os complexos psicológicos, muitos deles causados por minha insegurança. Alguns dizem que sou bonita, mas eu simplesmente não consigo ver. Não consigo acreditar. Eles só dizem pra tentar me fazer melhor, mas não faz. Não ajuda. Machuca. Eles não veem o que eu vejo. Na verdade, é isso mesmo...

Eles não veem o que eu vejo.

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