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domingo, 7 de julho de 2013

Registros

Quando fui diagnosticada com um tumor (benigno) no ovário, me deram uma sugestão de começar um diário ou algo parecido. Escrever sobre o que eu sentia, tanto físico quanto psicologicamente, qualquer coisa. Eu só não sabia que minha avó havia começado um também.
Enquanto eu comecei um blog, ela começou a escrever em um caderninho. Mas não foi exatamente ao mesmo tempo que eu, já que eu comecei o blog cerca de 15 dias antes da cirurgia; ela fez um registro do que aconteceu durante meu período de internação.

Encontrei o tal caderninho um dia desses. Achei o máximo ler suas anotações. Descobri tanta coisa que não sabia! Algumas coisas escritas foram grandes revelações para mim. Apesar de ser um tanto pessoal, resolvi que gostaria de compartilhar.
Dia 29/07/2009
19:25  Estamos aqui no HPM outra vez. Dia 16/07 trouxe a Tuane para uma consulta de rotina, e... um susto atrás do outro. A cap. Karla achou uma coisa estranha e a princípio suspeitou de gravidez, o que eu e Tuane falamos que não, então fez um ultrassom e constatou uma massa imensa no abdome. Ficamos internadas para uma série de exames. É um cisto imenso. Como ela estava com pneumonia atípica, fomos para casa e ela começou a tomar antibióticos e depois de novos exames a Tuane está aqui do meu lado outra vez no HPM. Amanhã dia 30 as 13 horas ela vai ser operada. 
Dia 30/07
Tuane está no soro desde ontem, ela parece bem calma mas eu acho que ela está bem nervosa.
12:40 vieram buscá-la. Júnia está aqui comigo, descemos junto com ela (Tuane), o pai nos esperava lá embaixo. Acompanhamos até a entrada do bloco cirúrgico. A enfermeira nos chamou para conversarmos com a anestesista, senti firmeza com ela. Tuane está em boas mãos, graças a Deus.
Dr. Sandro e Dr. Humberto chegaram. Estamos na sala de espera, são 13:05, agora é esperar.
O CTI é aqui perto, morreu o pai de duas moças que eu estavam aqui na sala esperando o horário de visitas.
16:10  acabou a cirurgia. O Dr. Humberto passou indo almoçar e nos deu notícias. Correu tudo bem, amém.
17:30 +/-  acompanhamos Tuane para o quarto. Vou ficar com ela.
19:40  O dr. Sandro veio ver a Tuane antes de ir para casa. Mostrou os retratos do cisto, é imenso. Deu ordem para alimentos leves e foi embora. Tuane começou um prato de sopa, estava com fome. Ela está bem. 
Dia 31/07
12:00  almoçou pouco. A dra. Amanda fotografou a cirurgia e nos mostrou o cistão, é grande mesmo e nos contou que durante a cirurgia a Tuane acordou, olhou para o lado e disse “bacana demais e voltou a dormir. 
13:40  a Júnia chegou, trouxe mais Toddynho e chocolate para a Tuane. Eu então fui até em casa tomar banho e trocar de roupa (eu só trouxe uma muda de roupa).
17:30  voltei e Júnia está indo embora. O dr. Sandro veio cedo e Tuane já estava de banho tomado e com a barriga enfaixada.
18:00  chegou o jantar e Tuane não quis. Ela está muito nervosa agora não sei porque. 
Dia 01/08/2009
Já estou de birra com tantas pessoas entrando e saindo para ver a menina do cistão, é médico (estudantes) e enfermeiras.
10:00  Tá acontecendo alguma coisa errada. As enfermeiras, pessoal da limpeza, todo mundo de máscara e luvas, vou perguntar.
11:45  Tem um caso suspeito de meningite, estão dando alta para os pacientes internados, até a Tuane depois que o dr. Sandro vier deve ir pra casa.
14:00  O Raphael (namorado dela) veio e ficou até o dr. Sandro chegar e dar alta. Vamos embora. Graças a Deus porque não podemos sair do quarto por causa da criança doente aqui do lado. Não sei o sexo dele ou dela?
17:00  Vamos pra casa. Amém. A criança do lado morreu. Não contei pra Tuane, não quero ela mais nervosa do que já está.
19:00  Tuane em casa já no seu quarto, cercada pelos familiares que a amam. Será? Espero que o pai goste dela de verdade. Ela quer acreditar e eu também que é verdade mesmo.
Então acaba. Não sabia das duas histórias desses pacientes que morreram e, inclusive, essa criança eu nunca pensei que fosse meningite. Eu na verdade pensava que no quarto do lado havia dois casos de suspeita de gripe suína! Gostaria de lembrar porque eu estava nervosa, realmente não me lembro. Lembro apenas de dormir muito, tomar muito Toddynho, achar a sopa do hospital bem gostosa, acordar de tempos em tempos pra tomar remédio, trocar soro ou tomar injeção, e... Só. Ah, lembro também dessa galera que entrava o tempo todo. Lembro de uma enfermeira grávida (cuja criança o nome seria Larissa) e de uma outra enfermeira brutamontes que fez com que a injeção doesse e que trocava a faixa de forma estranha, super bruta mesmo, como se eu fosse uma boneca. E para finalizar: Não era verdade. Não estava cercada por familiares que me amavam. Fomos enganadas...

Um comentário:

  1. Eu sabia de algumas das coisas que você contou sobre os sentimentos da sua avó. Lembro que uma vez ela me confessou com a voz meio embargada o quanto ela temia te perder e quão grande foi o susto com esta história toda. Agora, acho só acho uma coisa: talvez a questão não seja falta de amor da parte de alguns (não digo de todos), mas sim a falta de aceitação disso e de demonstração de todo esse afeto. Algumas pessoas demoram à perceber o quanto amam certas pessoas, e algumas na verdade só tomam ciência disso depois que esta pessoa morre ou deliberadamente some de sua vida.

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