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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Meu primeiro pai

Se estivesse vivo hoje meu avô paterno estaria completando 82 anos de idade. Falecido há 14 anos, sinto muito em dizer que não tenho muitas lembranças dele; mas as histórias que ouço sobre grande parte de sua vida  como seu relacionamento com minha avó e filhos  me deixam estupefata, pois em nenhuma delas consigo identificar o homem que conheci. Histórias antigas mostram como ele não tinha problema algum em humilhar a esposa ou os filhos, como era de certa forma maldoso e como parecia mais disposto a ajudar os amigos e conhecidos do que a própria família; de forma alguma parecido com o senhor carinhoso, que me chamava de linda, que me trazia caramelos todos os dias. O mesmo que me levava sempre a uma mini-praça (que aliás, nem deveria chamá-la assim, apesar de que se não chamar de praça, como a definirei? Não tenho ideia do que era) porque eu adorava escalar uma pedra imensa e me sentir como se fosse a dona do mundo, do alto dela.

Talvez a idade o tenha mudado. Talvez meu nascimento o tenha mudado. Gosto de pensar que tenha sido esse o motivo e também fico satisfeita por outras pessoas pensarem da mesma maneira. Apesar de, como eu disse anteriormente, ele ter se tornado uma outra pessoa quando nasci, não muda o passado e as lembranças de que nem sempre ele foi assim. Ainda hoje eu não sei se tenho  ou mesmo se seria capaz  de formar uma opinião sobre isso e sobre ele, mas sei que não vou, não posso e nem deveria classificá-lo como algo em particular. Afinal, quem sou para isso? Quem sou eu pra dizer se ele foi uma pessoa boa ou uma pessoa ruim? Até porque não acho que existam pessoas inteiramente boas e/ou pessoas inteiramente ruins. Todo bem há um pouco de mal e vice versa.

Não tenho muitas lembranças dele e nem ao menos me lembro de sua voz (algo que lamento), mas foi incrivelmente especial para mim. Por cinco anos ele foi meu pai  e por muito tempo foi ele o único a quem eu conseguia me referir e chamar de pai. Aliás, não o chamava apenas de pai, mas sempre de papai. Também o homenageei colocando seu nome  João  no meu cachorro (qual é, eu tinha cinco anos!), meu primeiro, um poodle preto que tinha uma adorável mancha branca como se fosse um cavanhaque e uma outra no peito, como se fosse uma gravata. Apesar dos pesares é com alegria que digo que não importa o que tenha acontecido no passado, ele ainda é lembrado, e com carinho. Papai, amo você!

R.I.P.
João P. da Costa
★ 07/06/1931
✝ 19/06/1999

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