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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O adeus de Arya

Sinto-me triste e decepcionada por nunca ter falado sobre ela antes, enquanto ela estava aqui. Entre julho, agosto e um pedaço de setembro estive indo todos os dias pra casa da sogra da minha tia, ajudando-a a cuidar dos filhotes recém-nascidos de Rottweiler e de alguns um pouco mais velhos de Malinois. A Arya era a 10ª filhote de Boneca e Brutus e, pelo grande número de filhotes, acabou por quase não ter oportunidade de se alimentar e crescer. Desde o princípio chamou a minha atenção e a de minha prima, por ser a menor e a mais magrinha. No início minha prima havia lhe posto o nome de "Princesa Helena".

Princesa Helena Arya com cerca de um mês, dormindo

Nessa época minha tia já lhes dava papinha (ração triturada + água morna) e eu os vigiava e me certificava que comiam tudo. Foi quando percebi o motivo de ela ser tão pequena enquanto outros eram tão grandes e gordos. Ela não comia. Ela não tinha oportunidade de chegar na vasilha e, quando tinha, comia um pouco e acabava por sair, não conseguindo voltar depois. Porque os filhotes são assim: eles comem um pouco, saem, dão uma volta, Voltam pra vasilha, comem mais, cansam, deitam. Voltam, comem mais. E a cada vez que ela saía, ela não conseguia voltar mais. Mesmo que eu lhe arranjasse espaço, ela chegava, dava umas três bocadas e saía, perdendo o lugar.
Em setembro parei de ir por motivos de: o AVC que minha avó sofreu.
Lembro de estar no hospital num dos dias e receber a ligação de minha tia dizendo que talvez a Princesa Helena Arya não passasse daquela noite, pois seu marido a havia visto totalmente apática, mal se levantando ou andando. Chorei. Admito que chorei mesmo. No entanto a noite passou e ela não morreu, e assim que minha avó voltou pra casa, a Princesa Helena Arya foi levada para cá, local que se tornaria seu lar pelos quatro meses seguintes.
Quando ela chegou decidimos que, definitivamente, seu nome não seria Princesa Helena. Mas a primeira opção não foi Arya. Seu nome foi Xena por quase duas semanas, antes de eu dizer o quanto não gostei do nome, que apesar de continuar sendo uma princesa e, ainda por cima, uma guerreira, não combinava com ela. E além do mais eu não gostava de Xena Xena Xeninha Xeninha Xaninha Xana. Achei e acho Arya muito mais apropriado, pois as duas Aryas da literatura - que eu conheço - são incríveis e, princesas também. A Arya de Eragon filha da Rainha Islanzadí dos elfos e a Arya Stark das Crônicas de Gelo e Fogo (aka Game of Thrones) irmã de Robb Stark, THE KING IN THE NORTH! *brados e silvos*

Princesa Helena Xena Arya e Jake

Agora que comia, bebia e tinha um lugar somente para si, ela começou a se desenvolver e foi imediato. Sua barriguinha (que era negativa) se tornou bastante protuberante e logo tínhamos uma cadelinha com saúde plena e iguais aos irmãos que havia deixado pra trás. Ela chegou menor que o Jake e, em tempo recorde  estava bem maior do que ele.
Era hilário ver os dois juntos. Ela tentava chegar nele, brincar com ele, e ele fugia, avançava, rosnava. Cada vez que ele rosnava pra ela, ela abaixava, mostrando-se totalmente submissa (vide foto acima) e mesmo assim ele fugia dela. Ele chegou a ponto de se esconder atrás do móvel da TV, do sofá, e a causar uma bagunça tremenda ao redor da árvore de Natal.

Giovana e Arya em outubro, um mês depois de sua chegada. Tinha quase três meses.

As mudanças nela foram incríveis. Seu pelo era maravilhoso, muito mais bonito que o de seus irmãos, e sua personalidade, doce. Porém seu crescimento inevitável tornou difícil sua convivência com minha avó. Ela ficava presa na área atrás da casa, um corredor (a Arya ficava presa na área, HAHAHAHAHA piada estilo do tio do "pavê ou pacomê"). Não havia uma vez que fôssemos colocar comida que ela não conseguisse escapulir e saía como um furacão pela casa - coisa completamente normal pra mim. Mas não pra minha avó. Ela tinha (e tem!) a necessidade de brincar, pular; e quando minha avó ia lá atrás, era exatamente isso que acontecia. Minha avó então começou a reclamar que qualquer dia iríamos encontrá-la dura e estirada no chão, morta, por causa da cadela. Que dia desses a cadela a faria cair e quebrar algum pedaço do corpo. Muita coisa desnecessária.

Giovana e Arya, em janeiro, menos de três meses depois - e com cerca de seis meses de idade.

Eu não queria deixá-la ir. Mas acabei tendo que ceder.
Fico triste e desapontada também por não ter feito esse post antes. Ela foi levada daqui para o sítio e canil há cerca de duas semanas e somente hoje - quando fui avisada sobre sua venda - o fiz. Sinto sua falta tremendamente.
Não quis vendê-la pois não se vende membros da família. Só por ser um cão, um animal, a tornaria suscetível à isso? Vemos muitas pessoas doando e vendendo seus bichos por motivos de nascimento de filho, mudança de casa; Mas vem cá, "meu bicho não consegue se acostumar com meu filho, então estou doando criança de seis meses, 70cm, caucasiano, olhos verdes. Vacinado e vermifugado, tratar diretamente com Fulana" nunca vai acontecer, né? Pode parecer extremo e exagerado, mas pra mim não é. Não se pode jogar fora um membro de sua família por inconveniências. Assim fosse já teria dado cabo de minha prima, madrasta e qualquer um que me fosse desagradável há séculos. Para tudo, TUDO, há uma solução. E uma que não seja necessária a exclusão de alguém.

Me dando beijinho, aquela linda.

Então é basicamente isso. Perdi um membro de minha família, alguém (sim, alguém!) que cuidei, amei. Ela não ficou belíssima à toa. Foi por minha causa. Mãe não tem raça, tem coração.

Com muito amor, sempre;
Jay.

Obs: Semana passada fui ao sítio da minha tia e a vi lá. Foi, hm, heartbreaking. Estava chovendo e ela ficava o tempo todo do lado de fora, portanto estava encharcada. Ela estava com outros dois cães - um outro Rottweiler, um de seus irmãos - e um Malinois. O Malinois não parecia se importar muito com ela, mas o irmão ficava praticamente comendo a cabeça dela enquanto ela ficava em pé me olhando, enquanto ambas tentávamos inutilmente interagir. Não conseguia passar a mão pela grade... E o irmão mordiscava a cara dela, puxava ambas as orelhas... E ela lá, sem fazer nada, apenas olhando pra mim. E eu pra ela. Me senti impotente. Uma das piores cenas que já vivi em minha vida.

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