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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Amour

Semana passada, na quarta dia 6, minha amiga Raquel (lá do Dragão das Torres!) me chamou pra assistir ao filme Amour, no Teatro Usiminas. Fomos apenas nós duas porque ninguém mais quis ir - e nem se importaram de responder, mas enfim... Eu nunca tinha ido ao Usiminas antes. Eu nem sabia onde ficava e achei um pouco escondidinho apesar de ser bem vistosa a entrada.
Eu não sabia a sinopse do filme. Sabia apenas que era francês, que foi indicado ao Oscar e que ganhou o Globo de Ouro. Comentei com minha avó e ela disse que normalmente não gosta desses filmes estrangeiros indicados ao Oscar, que os acha um pouco "estranhos". Olha... Porque eu não ouvi? Não que eu não tenha gostado do filme, mas também não o amei. Pelo que já vi esse é aquele tipo de filme que OU você ama OU você odeia. E eu passei o filme inteiro numa luta interna pensando se eu estava gostando ou não. No fim, não cheguei numa conclusão. Ainda hoje não cheguei a uma.


O casal protagonista do filme são dois velhinhos provavelmente já além de seus 80 anos, porém ainda muito sãos. Porém numa manhã Anne sofre um AVC que deixa seu lado direito paralisado. Após isso ela faz uma cirurgia de desobstrução da carótida, só que... dá errado. Depois disso Georges fica encarregado de lhe dar comida, banho, etc; e com o tempo só piora...
É bacana porque não se trata daquele amor romântico, aquelas paixões avassaladoras que costumamos ver na maioria dos filmes. Trata-se do amor companheiro, verdadeiramente aquele pra vida toda. Não é mais um filme fofinho contando as aventuras da juventude de um casal idoso, mostra a verdade nua e crua de um processo doloroso, mostra a realidade do fim da vida, porque não? Esse filme foi um soco na cara, um chute nas costelas e uma facada no coração. Para a maioria das pessoas ele já foi chocante (a realidade sempre choca, porque será?), pra mim foi o dobro. Foi o dobro porque assim como Anne, minha avó teve um AVC. Assim como Georges, eu e minha tia estamos (eu mais um pouco porque eu convivo com ela todos os dias). E assim como Anne, minha avó também fará uma cirurgia de desobstrução da carótida em breve.
Felizmente o derrame que minha avó teve não foi tão forte quanto o de Anne. Anne ficou totalmente paralisada no lado direito do corpo, perdeu total movimento do braço e perdeu, também, a habilidade de andar. Minha avó teve o lado esquerdo afetado, porém ainda é capaz de caminhar - e agora que quase cinco meses desde o incidente aconteceu, praticamente não é mais visível que algum dia ela tenha sofrido um AVC -, usar o braço, a mão, etc. Até aí tudo bem, até porque até nessa parte minha avó foi mais afortunada que a Anne. E eu e minha tia muito mais afortunadas do que Georges, pois ficou muito mais sobrecarregado do que nós duas e, pior: sozinho. O problema mesmo é a cirurgia. Essa cirurgia é considerada fácil, com 95% de sucesso de recuperação. Meu medo? Que assim como Anne, minha avó faça parte desses 5%. Sim, fomos afortunadas antes, podemos ser novamente. Mas ainda assim, podemos não ser também. E eu tenho medo. Numa parte do filme, Georges expressa para a filha, Eva (que me fez pensar e repensar se seria realmente filha do casal, por se mostrar tão fria enquanto o pai lhe contava o que aconteceu e sobre a cirurgia. Se não tivesse derramado algumas lágrimas e mostrado certo desespero cenas depois, eu realmente ficaria... Hm, não triste, não chocada, mas... Sei lá. Enfim), que tenta ver a mãe enquanto ele não deixa, dizendo que o estado dela é humilhante para ambos, e que não precisa ser visto. Eu também acho humilhante. Vemos uma pessoa saudável ir piorando aos poucos. De um corpo com "desempenho perfeito" para um lado paralisado e cadeira de rodas, depois para uma cadeira de rodas motorizada, depois para ficar imobilizada em cima da cama e, enfim, tendo perdido o controle sobre seus pensamentos e fala. Como o Georges, na mesma cena em que fala da humilhação, diz para a filha: "As coisas vão continuar do jeito que estão até agora. As coisas vão ir de mal a pior. As coisas vão continuar, até que um dia acabarão." Não consigo me imaginar vendo minha avó definhar física e mentalmente, e isso me assusta. Pra ela deve ser também terrível pensar em ficar assim. Apesar de estar falando sobre isso agora, eu evito ao máximo pensar sobre isso e mais importante ainda, pensar no pior.



No mais, o filme foi bom e ruim ao mesmo tempo. Talvez não fosse tão tortuoso caso o filme não fosse tão longo... E a verdade é que: eu chorei. E sofri. Mas teria eu chorado porque? Pela Anne? Pelo Georges? Ou teria eu chorado pela minha avó? Talvez eu tenha chorado e sofrido por causa de tudo. Talvez eu também tenha chorado pelo amor deles e pela incerteza de saber se eu terei alguém que faria o mesmo por mim e eu por ele... Como eu disse antes, esse filme foi um soco na cara, um chute nas costelas e uma facada no coração.


Informações sobre o filme:
Filme de língua francesa de 2012, escrito e dirigido por Michael Haneke (mesmo diretor de "O Sétimo Continente", "A Professora de Piano", "Violência Gratuita", etc), estrelando Jean-Louis Trintignant, Emmanuele Riva (ela foi, inclusive, indicada como Melhor Atriz no Oscar de 2013) e Isabelle Huppert. Até agora o filme já foi premiado com um Globo de Ouro, Palma de Ouro, BAFTA de Melhor Atriz, Prêmio de Cinema Europeu por Melhor Ator e Melhor Atriz, Melhor Realizador e Melhor Filme, entre muitas outras indicações.

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