Ia escrever e postar isso antes, na quinta-feira, que foi quando
aconteceu pela segunda vez algo que eu poderia ter “me mexido”, feito qualquer
coisa, mesmo que fosse uma pergunta, mas não fiz.
Nessa primeira situação, foi de dia e eu e minha prima saímos para ir numa
sorveteria, e quando viramos a rua tinha um menino deitado na calçada. A
princípio não prestamos muita atenção, mas depois ouvimos que ele gritava de
dor. Não eram necessariamente gritos, ele simplesmente dizia “aaaaaai” num tom
mais arrastado, não alto o suficiente para que fosse ouvido de longe, mas que
dava para ser ouvido de uma distância relativamente grande. Eu imediatamente
quis ajudar, nem que fosse só pra perguntar se tava tudo bem, se tinha alguma
coisa que eu poderia fazer, chamar alguém, algo assim. Minha prima não deixou que
eu me aproximasse dele de forma alguma, por isso passado alguns instantes nós
seguimos em frente. Minha prima nem queria passar pela mesma rua – com medo que
acontecesse alguma coisa, ou “pior”, que eu fizesse alguma coisa –, mas quando
voltamos ele não estava mais lá.
Pode ser que não tenha sido nada, que poderia ser algum truque (como minha
prima acreditava ser), que alguém tivesse passado por lá e ajudado-o, mas eu
fiquei muito chateada e cheia de peso na consciência. Mas se eu realmente
quisesse ajudar, eu teria ajudado, não é mesmo? Eu posso ser pequena, mas uma
menina de nove anos de idade não me seguraria se eu realmente quisesse fazer
algo. Fiquei incrivelmente irritada comigo, pois se alguém precisa de ajuda e
eu posso ajudar, eu devo fazer isso. Não era um local perigoso e estava claro,
mas mesmo que fossem circunstâncias contrárias, eu deveria sim ter feito algo. Foi
imperdoável.
A segunda situação aconteceu nessa quinta, como eu já havia adiantado, e foi
diferente da primeira, em muitos sentidos. A única semelhança é que eu poderia
e deveria ter me pronunciado.
Enquanto eu estava próxima do portão da minha casa e procurava as chaves, eu
ouvi o choro de uma criança. Era um choro rouco, contínuo e incessante, que eu
achei de primeira que fosse meu vizinho. Quando abri o portão e fui pra rua, vi
que não era uma criança, muito menos um menino. Passou por mim uma mulher
aparentemente embriagada, e era ela quem chorava, e chorava muito alto mesmo.
Talvez ela não estivesse bêbada, não sei porque sempre assumo que somente
pessoas bêbadas choram alto na rua, mas era tão intenso e alto que eu entrei
num dilema se corria até ela e me certificava ela estava bem – tá, por ela
estar chorando eu sei que não estava bem, mas queria saber se não era nenhuma
dor física. Eu queria reconfortá-la, assim como sempre quero e sinto que devo
quando vejo alguém chorando ou só triste. Era uma pessoa desconhecida, claro,
mas eu me sinto mal quando eu vejo alguém mal. É algo que vai além de desconforto...
E mais uma vez eu fiquei “de mal” de mim mesma porque se eu realmente quisesse
ter feito algo, eu faria. Mas tá aí, muita coisa que eu queria ter feito eu
deixei de fazer... Mas o que isso diz de mim? São duas situações distintas,
porém tão iguais nos sentimentos que me trouxeram. Não foram as primeiras vezes
e certamente não serão as últimas, mas eu gostaria apenas de deixar esse
torpor, essa paralisia que me toma e finalmente fazer algo que sirva, que valha
a pena. Que eu tenha coragem também de simplesmente não apenas sentir dó de
animais na rua, principalmente os maltratados, mas que tenha coragem e tome uma
atitude! Uau, isso me rendeu uma bela dor de cabeça.
Beijos,
Jay.
Acho que isso é muito mais do que simplesmente ir lá e fazer. Também já me senti assim as vezes. Lembra aquele episódio com a professora de Sociologia quando ela foi até nossa sala e veio falar aquelas coisas sobre você? Eu fiquei com tanta raiva e tive muita vontade de te defender, mas fiquei ali parada... Depois eu até fui conversar com a supervisora, mas ainda me sinto mal por não ter feito nada. Mas é isso mesmo, é difícil a gente fazer algo realmente radical que não é natural ou não estamos acostumados. Mas perceber isso é interessante, já é um grande passo para uma possível mudança.
ResponderExcluirEra uma batalha minha, não havia nada que você pudesse fazer. Perceber não parece tão importante assim. Perceber eu sempre percebo, todos percebem. Mas fazer algo é pra poucos. Deveria ser algo que não teria nem um segundo pensamento, algo instantâneo, intuitivo. Queria poder fazer mais.
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